Voluntários da Esperança

Parte do livro: Rir é o Melhor Remédio, que escrevi em 2006, com meus colegas de trabalho da faculdade quando cursamos Jornalismo, na Universidade São Judas Tadeu.


Voluntários da Esperança

Mayara Vellardi

“O amor torna tudo brilhante, agradável e vantajoso. O amor é o vaso que contém alegria!” (Madre Teresa de Calcutá)
Fernanda Temple Lopes, começou sua jornada de solidariedade no ano de 1999, quando tinha 19 anos. A idéia desse projeto tão lindo, nasceu da iniciativa de fazer algo bom pelo ser humano. Não teve apoio de pessoas próximas, mas mesmo assim, insistiu em algo que achou que era certo.                                                                        
A Associação Voluntários da Esperança, atualmente, tem cerca de 15 a 20 voluntários. É um número que tem rotatividade dependendo de quantos treinamentos são realizados. Os interessados se candidatam, depois assistem a uma palestra, criam afinidade com o grupo e passam a integrá-lo. Não tem burocracia para a entrada. Muitas pessoas procuram o grupo principalmente pela internet, a maior parte são mulheres.                                                                            
 A rotina de visitas à casas de repouso é semanal. Lá praticam junto com os idosos, aulas de dança do ventre, massagem, aula de artes e muitas brincadeiras. Mas também atingem um público mais abrangente, como crianças carentes, hospitais e casas de apoio a crianças com câncer.          Trabalham o ano todo, mas as principais datas são as festivas, Dia das Crianças, Natal, Páscoa. Para atender alguns hospitais enfrentam resistência, devido a serem locais que já possuem muita ajuda, por isso procuram atender locais mais carentes nesse aspecto, então a aceitação é mais fácil.                                                                           
- Para ser voluntário não precisa fazer nada fora de casa. Você tem que ter bom coração com os familiares, com os amigos, com as pessoas do trabalho. Dar uma palavra amiga, escutar alguém em um momento difícil, é algo que não custa dinheiro, comenta Fernanda.
                                   

Foto: Mayara Vellardi                  
Voluntários da Esperança / Cantora Monique Angel

A maior dificuldade da ONG é a falta de patrocínio. Os voluntários armazenam doações nas próprias casas. Para ser um voluntário, você não precisa ser estudante de algo específico, basta ter boa vontade, que juntos trocam conhecimentos para levar o melhor possível para as pessoas necessitadas de amor, carinho e compreensão.
            A Associação surgiu através de um ato singelo de Fernanda. Seu coração foi tocado em meados de março de 1999, quando entrou no sanitário de um metrô. Lá estava uma senhora mendiga quase sem nenhum dente na boca. Reclamando da vida, da dor, dizendo que não tinha nem dinheiro para tratar o dente, nem para comprar remédio. Chorava e dizia que era melhor roubar do que pedir, porque se pedisse ia ser considerada uma ladra, e não valia a pena ter esperança. Disse que tinha sido humilhada por algumas pessoas e se sentia triste. Então Fernanda conversou com ela sobre a esperança e lhe deu 1 real para ajudar simbolicamente. Depois disso, ela ficou pensando que muitas pessoas já haviam perdido a esperança. Começou a montar uma equipe para ajudar instituições carentes. E foi no mês de abril, com uma visita a um orfanato, que tudo teve início. Foi atrás de doações e artistas. Fez diversos contatos e começou a divulgar seu trabalho através da internet. A situação foi evoluindo e com recursos próprios conseguiram registrar a Associação, no ano de 2004.                                                                                             
- Coordenar os voluntários da esperança para mim e uma benção. A nossa luta é a dos necessitados, para levar justiça e esperança a muitos! E hoje criamos e prosperamos em muitos programas sociais tentando transformar. Ainda que essas transformações sejam pequenas e abranjam poucas vidas perto das tantas que sofrem, estamos fazendo a nossa parte, tendo os olhos voltados para aqueles que são afetados pela miséria e desigualdade social. Os resultados são belíssimos, e nos dão a certeza de que ainda vale a pena ter esperança!, afirma Fernanda.                                  Os locais atendidos são diversos. Apesar da dificuldade financeira, eles não desanimam e continuam fazendo esse trabalho  tão especial. Os asilos atendidos são: Associação de Beneficência a Velhice Desamparada; Casa de Repouso São Matheus; Lar das Mãezinhas; Lar Humberto de Campos; Recanto dos Idosos de Vila Formosa; Toca de Assis.                                                     Os Hospitais e Casas de Apoio assistidos são: Casa Hope (Assistência a crianças e adolescentes com câncer); CBC (Assistência a crianças com câncer); COTIC (Assistência a crianças com deficiências físicas e metais); Hospital Menino Jesus (Assistência a crianças); Hospital São Jorge (Pacientes com Hemodiálise).                    
As Comunidades Carentes atendidas são: Favela do Pantanal; Favela do Jaguaré; Favela do Tolstoi; Itaquera; Jardim Evana; Jardim Ingá; Jardim Helena. E também atendem orfanatos como: Casa da Criança Feliz; Casa de amparo ao pequeno São João Batista; Casa dos Inocentes; Lar da criança Favos de Luz; Lar da infância da Nice.                                                                             
Houve uma situação emocionante para Fernanda. Os Voluntários da Esperança foram convidados pelo Hospital São Jorge, para realizar uma festa; ou melhor, para uma "bagunça animada" em comemoração ao Natal. Então, no dia 15 e 16 de Dezembro foi marcada uma visita ao hospital, com o intuito de invadir o coração daquelas pessoas tentando levar um pouco de esperança.                                                                       
- Foi a primeira visita desse gênero e fico muito feliz de ter aberto o coração para mais esse aprendizado, pois realmente eu só aprendi. Aprendi mais um pouquinho sobre a grandeza das pessoas, aprendi sobre a vida. Refleti sobre a minha vida, comenta a presidente.                                       Não havia como negar um pedido desses. Um hospital chamando o grupo para levar um pouco de alegria aos pacientes que ficam 4 horas por dia, três vezes por semana recebendo hemodiálise.                                                                                  - O primeiro ato antes de entrarmos, foi uma oração. E realmente somos preparados. Acredito que quando abrimos o coração com humildade tudo o que nos falta no momento é suprido, aborda a fundadora.   


                                     Foto: Mayara Vellardi - Voluntários da Esperança 


O grupo estava composto nesse dia de diversos voluntários. Fernanda de palhaça. Rafael de Papai Noel, Cleber de Repórter Frango, e para acompanhar Davi e a outra Fernanda como apoio.   Foram o total de 12 apresentações para diferentes pacientes de quinta para sexta com pacientes diferentes, revezando alguns voluntários enquanto a palhacinha acompanhou tudo.                    Eles não haviam ensaiado, e se propuseram a fazer algumas animações de última hora. Entre as brincadeiras e as músicas, com seu humilde violão, na primeira sessão, Fernanda via sempre os olhos das pessoas. Então, ela deu uma mensagem ao microfone, e seu coração estava plenamente engasgado, pediu força em silêncio e quando saiu chorou quieta, mas logo na segunda estava firme de novo e depois destas 2,  foram mais 4 e até 6 apresentações no dia.                            - São tantas lindas lembranças, doei minha voz nas canções, meu sorriso, meu carinho em todas as vezes que tocava nas mãos deles, escutei bençãos como "Você é maravilhosa... Sua alegria contamina..... Obrigada por alegrar meu dia..... você tem o dom de encantar as pessoas...... Que pena que já vai embora..... você é iluminada...", diz Lopes.                                                O ingrediente principal no trabalho voluntário é o amor sincero, que faz a caridade se tornar mais pura e verdadeira. As pessoas têm que ser quem são. Os adultos devem voltar a serem crianças, porque se a caridade é pura, ela é inocente como as crianças.                                                    - Tivemos a presença dos enfermeiros, imaginem só eles dançando as canções de crianças com coreografias, outro enfermeiro imitando o apresentador Sílvio Santos, outro imitando E.T., foi uma farra só, conta Fernanda.        Os pacientes se divertiram, colocaram perucas, participaram de histórias onde eram os pais do papai Noel, cantores, entre outros personagens. Também seus sorrisos romperam a dor, pelo menos naqueles momentos de alegria.                         Os olhos dos pacientes eram atentos seguiam tudo. Prestavam atenção nas músicas de esperança, alegria e cantaram muito. Alguns não tinham nenhuma vontade de brincar, porque sentiam dor, mas mesmo assim, depois de tudo, agradeceram pelo bem que estava feito.                           
 Imaginem pacientes cegos cantando músicas de Funk, como “Tô ficando atoladinha”. Eles tiveram iniciativas de cantar e fazer piadas também. Outros pacientes cantaram a música “Festa no Apê”, alguns fizeram graça pedindo rim para o Lula, outros expulsando o Lula dali, todos em uma alegria contagiante.                                               
Em um dos quartos, quando os voluntários entraram havia uma senhora com os olhos marejados de agonia, e Fernanda chegou com seu violão para cantar baixinho “Pelos prados e campinas verdejantes eu vou. Tu és Senhor o meu pastor...” Então, a mesma senhora chorou o que estava engasgado, carinho sincero, as palavras que lhe disseram foram com amor, que no seu coração havia um Deus amável e era só confiar. Havia gaita, saxofone, violão, pandeiro tudo em um mesmo quarto, muitas experiências lindas vividas por esse grupo tão especial.                            
- Eu acredito nos pequenos milagres. E sempre disse isso "Ver um rosto transformando-se da dor para a alegria é uma das coisas mais lindas que existem" Eu agradeço a todos que fizeram parte desse trabalho, foi algo marcante e especial, reconhece Lopes.            
            -No último quarto, um paciente disse à dona do hospital que o cumprimentava: “Nós não somos doentes.” Aquilo para mim foi uma grande lição. Afinal doentes são aqueles que não acreditam na vida, nem em seus milagres. Muito obrigado a todos. E muito obrigada a Deus pela oportunidade de servir um pouquinho. Me emociono ao lembrar, encerra Fernanda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou da postagem? Então deixe um recadinho para mim! Obrigada! :)